E Depois do Adeus???
Fecha-se o ano em que os cravos andaram por toda parte celebrando o cinquentenário de abril. Mas não sem antes escutar a voz ouvida na primeira senha daquela madrugada. Aos 77 anos, ele se eleva para transformar a tal canção em interrogação, como quem interpela, em época de incertezas, o mesmo país que fez essa revolução: E Depois do Adeus???
É o título do espectáculo com que Paulo de Carvalho remata 2024, com uma grande banda por companheira, mais 60 anos de canções para rever e um disco de originais recente – apesar do título que quase o desmente – chamado 2020.
Emergentes a prêmio
Ouvidos bem abertos, boletins de voto a jeito, prêmios a postos. Vem aí mais um Emergenteo festival onde se pode sorver uma boa amostra do que de melhor se faz por aí em campos musicais de toda a espécie.
Na sexta edição, avia malas e bagagens para a BOTA dos Anjos e lá se instala com sons que vão das Novas Canções da Terra da cantautora Catarina Carvalho Gomes até a mescla de cabo-zouk e neo-soul de Ya Sin. São dois entre os oito “novatos” que compõem a lista peneirada das mais de 90 candidaturas “de várias regiões do país e com altíssima qualidade” que chegaram à organização.
A seleção se completa com o tom interventivo de Bea Bandeirinha, a sutileza de Francisco Fontes, o Auto-retrato de Hal Still Echoes (Daniel Barros), a fusão dançável da dupla IBSXJAUR, a afirmação a solo de Constança Ochoa como Líquen e o rock experimental do trio Pato Bernardo a braços com A Sombra do Chão. Agora escolha.
Aos oito emergentes juntam-se quatro artistas convidados, já com créditos firmados: Surma, Maria Reis, Baleia Baleia Baleia e Agressive Girls. Os Dji Jays e Tiago Castro tratam de lançar a música para dançar.
Tocam os sinos na Torre dos Clérigos
Ela se destaca no recorte da Invicta e é parada obrigatória para quem a visita. À Torre dos Clérigos não faltam motivos de atração. Muito menos nesta época, em que se enfeita com uma programação que vai do presépio até ao espectáculo imersivo Espírito de Natalpassando por visitas noturnas, oficinas e uma Fábrica dos Sonhos eles mapeamento de vídeo.
Para o Natal, de presente, ele também preparou um concerto especial: os sinos vão dobrar para espalhar melodias da quadra pela cidade, pelas mãos de Abel Chaves, carrilhanista do Palácio Nacional de Mafra.
Por uma “comunhão libertadora”
Salvo uma ou outra parada, desde 2001 podemos contar com The Legendary Tigerman para manter bem acesa e elétrica essa tradição lisboeta da época que é um concerto para mandar o Natal passear – uma forma livre e limpinha de traduzir Foda-se o Natal, eu tenho o Blues!título de espectáculo que também é nome de um disco dele.
Funciona também como lema sob medida para o estado de espírito das almas que, por esses dias, andam carregadas “por sentimentos confusos (alívio, paz, depressão, melancolia, tédio)”, como descreve Zé dos Bois, e que encontram nesse pregador – O autor do aclamado Zeitgeist que um dia também ousou espalhar a palavra de Eclesiastes 1.11 com os saudosos WrayGunn – a promessa de uma “comunhão libertadora”.
Os cinco e a roupa flutuante
Novo ano, novo circo. Por ação da cooperativa cultural Lavrar o Mar – que investe em levar artes cênicas para lugares pouco populosos da serra algarvia e da costa vicentina – Monchique transita para 2025 de olho em dois espetáculos circenses contemporâneos que valem para toda a família.
A trupe franco-suíça Cirque la Compagnie enfia em um Fiat Panda cinco irmãos de mães diferentes. O resultado é Pandaxum momento simultaneamente “trágico, cômico, acrobático e musical”. Os franceses Bêtes de Foire põem para flutuar casacos, chapéus, trench coats e sedas em Pegue para mim“num universo singular, onde trapalhadas e proezas, pequenos nadas e o extraordinário, aparências e ilusões andam de mãos dadas”.