Ohio posicionou a polícia estadual nas escolas de Springfield na terça-feira em resposta a uma onda de ameaças de bomba — a grande maioria que as autoridades disseram ter vindo do exterior — depois que o ex-presidente dos EUA Donald Trump e seu companheiro de chapa, o senador de Ohio JD Vance disseram falsamente que imigrantes haitianos legais na pequena cidade estavam comendo cães e gatos.
Escolas, prédios governamentais e casas de autoridades eleitas em Springfield estavam entre os alvos de mais de 30 ameaças falsas feitas na semana passada que forçaram evacuações e fechamentos. Mais duas escolas tiveram que ser evacuadas na segunda-feira, e a escola secundária foi ameaçada na terça-feira. O governador republicano Mike DeWine disse que um ator estrangeiro foi o principal responsável, mas ele se recusou a nomear o país.
Mesmo com dezenas de policiais da Ohio State Highway Patrol se espalhando para proteger as 18 escolas do Springfield City School District, muitos pais optaram por manter seus filhos em casa. Em uma escola primária, cerca de 200 alunos estavam ausentes na terça-feira de uma população de 500.
“Ainda há um alto nível de medo devido a essas ameaças e fraudes infundadas que têm prejudicado nossa existência há quase uma semana”, disse Robert Hill, diretor executivo do Distrito Escolar da Cidade de Springfield, em uma entrevista coletiva com DeWine.
Depois que o candidato presidencial republicano Donald Trump afirmou que imigrantes ilegais estavam comendo cães e gatos em Springfield, Ohio, o moderador do debate presidencial da ABC News, David Muir, disse que o administrador da cidade disse à ABC News que “não houve relatos confiáveis” de tais incidentes.
Dois policiais rodoviários foram designados para cada escola, um protocolo que será mantido “enquanto for necessário”, disse DeWine.
“Não acreditamos que haja uma ameaça real por aí, mas certamente não vamos correr riscos. E queremos que os pais tenham certeza de que seus filhos podem ser crianças, podem ir à escola e podem aprender”, disse ele.
A polícia estadual estava presente em uma escola de ensino fundamental na terça-feira, onde os alunos foram deixados normalmente.
Trump amplificou rumores desmascarados
Milhares de imigrantes haitianos se estabeleceram nos últimos anos na cidade predominantemente branca e operária, com cerca de 60.000 habitantes, a cerca de 70 quilômetros da capital do estado, Columbus, onde encontraram trabalho em fábricas e armazéns que estavam com dificuldades para preencher vagas de emprego.
O fluxo repentino sobrecarregou escolas, unidades de saúde e serviços municipais e elevou o custo da moradia — ao mesmo tempo em que se tornou uma questão política importante depois que Trump ampliou rumores desmascarados na internet sobre comer animais de estimação durante o debate presidencial da semana passada. Vance repetiu as falsas alegações.
“Não tivemos ameaças há sete dias. Não tivemos essas preocupações há sete dias. Não tivemos essas centenas e centenas de milhares de dólares gastos em Springfield e do estado de Ohio em apoio há sete dias. Temos hoje”, disse o prefeito de Springfield, Rob Rue, na terça-feira.
Rue não mencionou Trump ou Vance pelo nome, mas pediu aos líderes nacionais que “moderassem suas palavras e falassem a verdade”.
“É isso que Springfield está pedindo. Precisamos de paz. Precisamos de ajuda, não de ódio.”
‘Exaustivo’ e ‘prejudicial’
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, respondendo a perguntas em um fórum para jornalistas negros na Filadélfia na terça-feira, disse que seu coração se parte por Springfield. Ela disse que a retórica inflamatória sobre imigrantes haitianos é “exaustiva e prejudicial e odiosa e fundamentada em algumas coisas antigas que não deveríamos ter tolerância”.
Vance não recuou, escrevendo na plataforma de mídia social X que “os cidadãos estão nos dizendo que há problemas” em Springfield e que ele condenou repetidamente as ameaças. Ele acusou Harris de ignorar as preocupações legítimas dos moradores e tentar sufocar o debate.
O porta-voz de DeWine, Dan Tierney, disse na terça-feira que “a vasta maioria” das ameaças de bomba vieram do exterior. Ele disse que uma investigação criminal por várias agências de aplicação da lei rendeu informações sobre a origem das ameaças.
Tierney não foi mais específico sobre como os investigadores determinaram que eles vieram de um país estrangeiro, nem revelou o nome do país, dizendo que isso poderia encorajar ameaças adicionais.