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Ainda escreve à mão? Resistência do papel e caneta em tempos digitais

Ainda escreve à mão? Resistência do papel e caneta em tempos digitais


Por que ainda escrevemos à mão? Será a escrita ao último reduto das habilidades manuais?

Neste dia 23 de janeiro celebra-se o Dia Mundial da Escrita Manual, atividade que conta com quase quatro mil anos de existência. A realização de marcas gráficas, em forma de letras, foi uma das primeiras atividades dos primeiros humanos. As palavras escritas são a representação visual da nossa língua falada, e a escrita é uma representação pessoal da diversidade da linguagem.

Na educação, a escrita manual sempre esteve presente sendo transversal às diversas disciplinas. Atualmente ainda é esperado que as crianças passem pelo menos metade do tempo em sala de aula, se dedicando a essa atividade. E muitos resistem, não só pelas dificuldades que encontram, mas também diante da pressão tecnológica. Em relação às primeiras, é preciso repensar a fonte de letra que é ensinada às crianças. Ela é elaborada demais e há opções mais atuais e simples.

Quanto à tecnologia, muitas são as soluções para substituir o uso de papel e caneta. Independentemente das tarefas, sabe-se que a escrita manual ativa áreas do cérebro diferentes daquelas usadas quando digitamos em um computador ou telefone. O que não é de se admirar pois sendo a escrita um movimento que implica em habilidades motoras, perceptivas e cognitivas, resultará em uma estimulação multidimensional. Soma-se a isso o fato de que a escrita reforça o processo da leitura e organiza os pensamentos, auxiliando a retenção de informações.

Este tem sido um tema desenvolvido em nível de pesquisa. De alguns anos para cá, tem sido investigado se as crianças que estão finalizando a pré-escola estão ou não em condições de aprender formalmente a escrever. Isso permite uma ação precoce em caso de fragilidades e previne a instalação de possíveis dificuldades no futuro. Também se tem analisado a escrita como potencial auxiliar no diagnóstico precoce nas doenças neurodegenerativas.

Além dessa dimensão funcional há também um lado mais emocional da escrita. As primeiras palavras escritas permanecem bem próximas do desenho. A criança vai copiando as formas que surgem e para entrar na escrita, incorpora a letra e seu sentido. E evolui até que a forma como escrevemos espelha nosso estado de alma, expressa o que está em nós, com uma pressão e ritmos próprios. Perpetua nossas ideias e sentimentos.

Nesse alinhamento, vem, por fim, uma dimensão criativa. Vejam os trabalhos de Ana de Aragão, arquiteta portuense, com as reproduções gráficas manuais de cidades e não só. Ou a escritora Agustina Bessa-Luís que sempre se manteve fiel à escrita manual.

Muitos advogam que a escrita manual deve ser abandonada por ser algo do passado. O que se vê é que as crianças não apenas aprendem a ler mais rapidamente quando aprendem a escrever à mão, mas também continuam a ser mais capazes de gerar ideias e reter informações. Ou seja, não é apenas o que escrevemos que importa – mas como… O futuro desafio está em manter um equilíbrio saudável entre o que é o uso da caligrafia e o uso de tecnologia.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico



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