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Além de cuidar das unhas das clientes, manicures são terapeutas sentimentais

Além de cuidar das unhas das clientes, manicures são terapeutas sentimentais


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Nos últimos anos, com o aumento do número de brasileiros que escolhem Portugal como novo lar, um grupo em especial vem ganhando destaque: as manicures. Conhecidas pelo cuidado com as unhas, pela técnica apurada e pelo atendimento caloroso, elas têm conquistado não só os compatriotas que deixaram o Brasil, mas, também, os portugueses — homens e mulheres —, que se rendem à qualidade e à atenção dessas profissionais, vistas, por muitos, como verdadeiras terapeutas sentimentais. Fazer os pés e as mãos custa entre 20 e 50 euros (R$ 120 e R$ 300), dependendo do salão.

Conseguir um horário na agenda da carioca Carla Ribeiro, 42 anos, requer muita conversa, pois a clientela é fiel e frequente. É preciso torcer por uma desistência. Ela desembarcou em Portugal há quase seis anos, depois de uma longa trajetória como manicure no Brasil, onde começou a trabalhar aos 14 anos. Logo que chegou, percebeu diferenças culturais no cuidado com as unhas.



A manicure Carla Ribeiro afirma que, em Portugal, não há o costume de se tirar as cutículas da unhas, o que, no Brasil, é prioridade
Ana Cunha

“Em Portugal, não há o costume de se tirar as cutículas, o que, no Brasil, é prioridade”, diz Carla. Em compensação, as portuguesas não abrem mão da técnica do verniz gel, conhecido como “gelinho”, um esmalte que dura cerca de 20 dias, contrastando com a manutenção semanal tão comum no Brasil. Ela afirma que o jeitinho cuidadoso das brasileiras faz a diferença quando o alicate provoca alguma dor.

Construir uma clientela não foi fácil. “Passei muitas horas no primeiro salão onde trabalhei sem atender ninguém”, relembra Carla. Foram dois anos até que ela construísse uma base de clientes fixa. Hoje, é dona da própria loja e se orgulha da diversidade de sua clientela: “Quarenta por cento são brasileiras, 40%, outras estrangeiras e o restante, de portuguesas”. Para Carla, ser manicure é mais do que fazer unhas. “As clientes conversam, desabafam, compartilham histórias. Acaba sendo também um trabalho emocional”, reflete.



Kelly Prado, que está há seis anos em Portugal, forma manicures e ressalta que o que mais admira é a fidelidade das clientes portuguesas
Ana Cunha

Negócio sólido

Também há seis anos em Portugal, Kelly Prado, 40, não só construiu um negócio sólido, como se dedica a preparar novas manicures. “Já formei mais de 300 alunas”, ressalta, com orgulho. Ela também notou diferenças entre os dois países. “No Brasil, as unhas são mais naturais, em Portugal, o gel é o queridinho das clientes”, comenta. Para Kelly, um dos maiores trunfos é a lealdade das portuguesas. “Se gostam do seu trabalho, não trocam de profissional”, acrescenta.

Além de manicure, a mineira Kelly, que mora em Vialonga, é mentora para muitas mulheres. Ao capacitar novas profissionais, ela ajuda a criar uma rede de apoio e de crescimento de muitas parceiras, em que cada uma pode buscar a independência financeira. “Estamos todas juntas, isso fortalece o mercado e mantém o padrão de qualidade lá no alto”, acredita.

Thayná Cardoso, 22, encontrou em Portugal um caminho para o crescimento pessoal e profissional. Após se formar com Kelly, começou a trabalhar com esmalte em gel, devido à grande procura por esse produto. “Acabei me especializando nessa técnica, e as clientes adoram o resultado”, frisa. Para ela, a variedade de produtos e cores disponíveis em Portugal é um diferencial. “No Brasil, além de mais caros, os esmaltes são mais limitados”, explica.



Thayná Cardoso encontrou em Portugal um caminho para o crescimento pessoal e profissional
Ana Cunha

A jovem afirma que seu trabalho como manicure vai muito além da estética. “É uma troca constante com as clientes. Conversamos, criamos uma conexão. Esse contato torna o trabalho muito mais gratificante e nos aproxima de uma relação de confiança”, afirma. A mentora Kelly enfatiza que a lista de clientes dela incorporou vários homens. Eles, no entanto, não são assíduos como as mulheres no cuidado com as unhas.

A goiana Beatriz Elias, 26, chegou a Portugal grávida, mas isso não a impediu de continuar exercendo a profissão de manicure. Mesmo durante a gestação, trabalhou em casa e logo retomou os serviços de alongamento das unhas com gel. Para ela, a valorização das manicures em Portugal é uma das maiores diferenças em relação ao Brasil. “As clientes nos veem como profissionais de verdade, o que faz toda a diferença”, diz. Ela destaca, ainda, o respeito e a pontualidade das portuguesas, o que ajuda a manter uma rotina mais organizada.

Fidelidade

A professora portuguesa Helena Raposo, 63, é cliente assídua das manicures brasileiras. “São cuidadosa no trabalho e afetuosas no tratamento. Elas conseguem ser rápidas e cuidadosas ao mesmo tempo. Além disso, são muito gentis. Nem sempre encontro essa mesma atenção em outras manicures”, diz. Helena também valoriza a conversa durante o atendimento: “Elas sabem ouvir e falar, é quase uma terapia enquanto fazemos as unhas”, complementa.

Também portuguesa, Raquel Dias, 39, não abre mão das manicures brasileiras. “Faço as unhas com elas há 11 anos”, contabiliza. Na opinião de Raquel, as diferenças mais marcantes dessas profissionais são a rapidez no serviço e a pontualidade. “As brasileiras costumam avisar se vão se atrasar”, assinala.

Para Susana Nogueira, 38, tudo começa no atendimento. “Com as brasileiras, é mais completo, há mais cuidado. Hoje em dia, a empatia é essencial. Precisamos ser bons profissionais, mas também seres humanos exímios”, reflete a portuguesa. Outro ponto positivo das profissionais, no entender de Susana, é a qualidade dos materiais utilizados.

“Uso muito as mãos e costumo roer as unhas, e a proteção dura, mesmo assim”, afirma. Susana vê equilíbrio entre qualidade e preço. “A minha manicure brasileira oferece um trabalho excelente, com uma equipe maravilhosa. Ela tem o dom das unhas, da palavra e do colo”, enumera.

Esse ambiente acolhedor é fundamental para o sucesso de qualquer negócio, inclusive para o de manicure, avalia Kelly. “Esse é um dos caminhos para pavimentar o sucesso de um salão”, acredita Thayná. Segundo Carla, nos salões se estabelecem laços de confiança e amizade. “O simples fato de fazer as unhas é uma experiência de bem-estar e conexão humana”, conclui a carioca.



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