
As eleições dos EUA em nada parecem intervir com a educação em Portugal. A história recente nos diz que o que acontece nos EUA chega aqui um tempo depois, mesmo na educação. Foi assim, por exemplo, com o estudo da Administração Educacional enquanto ciência específica com o New Movement, com os programas de ‘combate à pobreza’ nos finais dos anos 60, do século passado, que levaram aos primeiros passos da educação compensatória, que se se materializam nas escolas dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), em Portugal.
O relatório Uma nação em riscode 1983, mostra como os republicamos consideraram as políticas compensatórias dos democratas sem eficácia na aquisição de conhecimento e muito pesadas financeiramente; o que me leva a pensar que a história está prestes a se repetir.
A nova administração americana, que tomará posse em janeiro, prepara-se para esvaziar o Departamento de Educação, que em Portugal equivale ao Ministério de Educação e Ciência, de todas as funções e programas que desenvolve até ao momento. Feitas as contas aos funcionários, aos programas dispersos que faz por dar resposta a realidades muito diversas e que requer recursos humanos e financeiros, os republicanos não encontram razão para continuarem com as políticas educacionais das administrações anteriores. Assim, os programas até agora sob a tutela da Educação, deverão ser geridos localmente ou passarão para a área da Justiça, Saúde e Agricultura, como é o caso da merenda escolar.
Esta preparação em termos ideológicos e de ressurgimento e clarificação dos ideais conservadores e republicanos tem como objetivo melhorar as oportunidades educativas para todos os americanos, e para que isso seja conseguido, “a próxima Administração deve trabalhar com o Congresso para aprovar uma Lei de Reorganização do Departamento de Educação, no sentido de reformar, eliminar ou transferir os programas e serviços do departamento para agências apropriadas”, pode ler-se no Relatório 2025 da Heritage Foundation.
A Heritage Foundation dá forma aos ideais conservadores e o Relatório 2025 condensa as orientações a seguir pela nova administração, discriminando cada área de atuação do Estado. É claramente dito que a intenção é extinguir o Departamento de Educação, onde se lê na página 330, capítulo 11 – Departamento de Educação, “para que o Departamento de Educação seja totalmente extinto, o Congresso tem de aprovar e o Presidente tem de assinar uma Lei de Reorganização do Departamento de Educação (ou Lei da Autoridade de Liquidação) para orientar o poder executivo sobre a forma de a agência como um departamento autónomo ao nível do Gabinete. l O Congresso deve aprovar e o próximo Presidente deve assinar uma Lei de Reorganização do Departamento de Educação”.
Além de existirem os problemas relacionados com a burocracia e financiamento investido na Educação, é exposto neste relatório o desempenho dos americanos em literacia matemática e leitura. A avaliação feita das tendências a longo prazo do Programa de Educação Nacional mostra uma estagnação académica desde a década de 1970, com incidência nos pontos já referidos, em alunos com 13 anos. Os resultados a matemática, embora modestamente tenham melhorado, continuam a ser baixos. Estes resultados incluem a atual geração que governa os Estados Unidos da América.
Se o exposto não é preocupante, é, no mínimo, um alerta. Esvaziar as competências do Departamento da Educação é um claro sinal da importância que lhe damos. É um arrepio em toda a história de políticas educativas nos EUA, com o foco claro na economia e na justiça. Estas políticas, pelo exemplo da História, depressa passam a outros países e chegam à Europa. A esperança é que como o foco da nova administração parece ser a Ásia e o Pacífico, esperamos que os ventos desta tempestade de mudança soprem por aqui de forma a não fazerem estragos.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990