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‘Biodiesel é ESG na veia, e futuro do combustível no Brasil é muito promissor’, diz CEO da Caramuru

‘Biodiesel é ESG na veia, e futuro do combustível no Brasil é muito promissor’, diz CEO da Caramuru


O economista Marcus Thieme assumiu no início deste ano o comando da Caramuru Alimentosuma das maiores processadoras de produtos como soja, milho, girassol e canola do País. E diz que a questão da sustentabilidade é um desafio constante nesse negócio. “A sustentabilidade no setor agrícola não depende apenas das práticas dos produtores, mas de uma ação conjunta em toda a cadeia de suprimentos”, afirma.

A Caramuru tem mais de 60 anos de atuação, e conta com operações nos Estados de Goiás, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Pará e Amapá. Sua capacidade anual inclui o processamento de 2 milhões de toneladas de soja, 230 mil toneladas de refino de óleos, 470 mil toneladas de milho e mais de 550 milhões de litros de Biodiesel. A empresa vende insumos principalmente para a Europa – onde a soja transgênica, por exemplo, não entra.

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Em outubro do ano passado, o grupo anunciou um pacote de investimentos de R$ 2,235 bilhões em seis áreas estratégicas do setor de bioenergia. O anúncio ocorreu no mesmo momento da sanção da Lei do Combustível do Futuro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estabelece programas de incentivo a combustíveis verdes.

Em entrevista ao EstadãoThieme defende o papel de protagonismo do Brasil na questão ambiental, e diz que o País deve deixar o posto de observador e passar a pautar o debate. O lado positivo do agronegócio, tem ESG na veia, diz Thieme. Segundo ele, no caso da produção de biodiesel, por exemplo, a agricultura familiar tem um peso enorme.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O quanto a questão da sustentabilidade é importante para a Caramuru?

A sustentabilidade é a base de toda a nossa operação, está no nosso DNA há décadas, pois é essencial para nosso modelo de negócio. Para exportar farelos não transgênicos para a Europa, precisamos garantir a origem sustentável da soja e do milho. Operamos no nicho da soja não transgênica e, ao processá-la, 70% resulta em farelo, 20% em óleo e 1% em lecitina. Como o Brasil não absorve todo esse óleo para consumo, utilizamos parte dele na produção de biodiesel. O farelo, produzido em Mato Grosso, segue por hidrovias e vai até a Noruega, onde alimenta a criação de salmões e trutas. Os noruegueses, referência em sustentabilidade, seguem rígidas regras ambientais, e nossa soja precisa atender a exigências, como rastreabilidade e conformidade com o Código Florestal brasileiro.

As empresas compradoras chegam a fazer alguma espécie de vistoria própria no Brasil? Ou as certificações são aceitas sem ressalvas?

O nosso programa Sustentar, baseado no incentivo às boas práticas agrícolas, assegura que toda soja processada cumpra os critérios ambientais. Utilizamos imagens de satélite e auditorias para garantir a conformidade. O mercado europeu valoriza essa transparência, exigindo certificações como a ProTerra. Mas existem clientes nossos, como a Nestlé, que também fazem auditorias próprias. O Brasil tem um diferencial sustentável que precisa ser valorizado. Nossa capacidade de produzir até três safras por ano torna o uso da terra mais eficiente do que em países com uma única safra anual. Essa produtividade é uma vantagem competitiva que reforça a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

No caso dos biocombustíveis que vocês produzem, toda produção é voltada para o mercado interno?

É um setor que atuamos há décadas, com três plantas de biodiesel, onde figuramos entre os dez maiores produtores do país. O biodiesel pode ser derivado de várias fontes, mas nossa principal matéria-prima é o óleo de soja. São processos sustentáveis, atrelados a matérias-primas da agricultura familiar, que permite reutilizar subprodutos e agregar valor ao setor. No caso do etanol de milho, a produção cresce especialmente em Mato Grosso. É uma fonte que já representa mais de 20% da matriz. É um crescimento que fortalece a economia local, gera empregos e mantém impostos no País. E o mercado interno tem se mostrado cada vez mais relevante nos últimos anos, especialmente na absorção da estagnação do crescimento do etanol de cana-de-açúcar. Isso ocorre porque, no setor sucroenergético, as usinas que possuem capacidade de produção flexível tendem a priorizar a fabricação de açúcar quando os preços estão altos, como acontece atualmente. Diante desse cenário, o etanol de milho tem desempenhado um papel fundamental, especialmente em um país onde os carros flex já estão amplamente consolidados. Atualmente, de cada dez carros produzidos no Brasil, nove são flex.



Unidade de processamento de soja e milho da Caramuru em Sorriso (MT)

Foto: Caramuru/Divulgação / Estadão

Nessa questão automotiva, que o sr. também conhece, o carro híbrido em vez do elétrico direto é a melhor aposta?

Embora a eletrificação dos automóveis seja uma tendência, observa-se um crescimento expressivo na demanda por veículos híbridos leves. Esses modelos combinam a utilização de gasolina e etanol com uma bateria que se recarrega automaticamente, proporcionando uma opção econômica e sustentável ao consumidor. Quando se analisa o ciclo de vida completo dos veículos, desde a fabricação até o descarte, ou do berço ao túmulo, os híbridos apresentam um balanço de emissões competitivo em relação aos elétricos puros. No Brasil, dada a dimensão territorial e a infraestrutura existente, há espaço para diferentes tipos de tecnologia. As montadoras reconhecem essa tendência, como demonstrado pelos modelos híbridos da Toyota, Corolla e Corolla Cross, e pelo recente lançamento do Hyundai Kona híbrido.

Ou seja, o potencial para o etanol é gigante?

Tenho falado que o biodiesel é ESG na veia porque tem o ambiental, para quem quer a certificação e emitir o CBIOS (créditos de descarbonização), tem a governança, porque é regulado, e agora ainda mais regulado com a lei do combustível do futuro, e o social por causa da agricultura familiar. O futuro dos biocombustíveis no Brasil é promissor, e seguimos confiantes na expansão da demanda por etanol, biodiesel e outros combustíveis sustentáveis, alinhados com as melhores práticas de sustentabilidade e inovação no setor. Há também a emergente indústria do SAF (Sustainable Aviation Fuel, o querosene de aviação sustentável), que busca substituir o querosene (fóssil) na aviação. Estamos apenas no início desse mercado, mas as perspectivas são promissoras.

No caso específico do etanol de milho, não há risco de uma competição comercial com os Estados Unidos?

No contexto internacional, é fundamental acompanhar a política dos Estados Unidos em relação aos biocombustíveis. No Brasil, o etanol é tratado como uma commodity independente da sua matéria-prima de origem, seja milho, cana-de-açúcar ou soja. Na prática, o consumidor não distingue a origem do etanol ao abastecer seu veículo. A Lei do Combustível do Futuro, que define aumentos graduais na mistura de biodiesel e abre espaço para o crescimento do etanol na gasolina, é mais um item de um arcabouço regulatório que oferece previsibilidade para investimentos, garantindo um mercado sustentável.

Quando falamos da importância do ambiental no dia a dia das empresas, a questão das mudanças climáticas se impõe. Como esse tema é tratado no planejamento da Caramuru Alimentos?

Nós iniciamos há três anos um trabalho de mensuração do nosso inventário de carbono, abrangendo os escopos 1, 2 e 3, todos auditados. Essa análise nos permite identificar que a maior parte das emissões está concentrada na agricultura, o que nos leva a atuar diretamente na sustentabilidade da cadeia produtiva. Um exemplo de diversificação que implementamos é a produção de óleo de girassol em Itumbiara, Goiás. Há três anos, tínhamos 30 mil toneladas de sementes de girassol; hoje, esse volume dobrou para 80 mil toneladas. Incentivamos os produtores a adotarem essa cultura devido à sua maior resistência hídrica em comparação ao milho, garantindo uma alternativa rentável e ambientalmente viável em períodos de estiagem. A sustentabilidade no setor agrícola não depende apenas das práticas dos produtores, mas de uma ação conjunta em toda a cadeia de suprimentos. Assim, também iniciamos um trabalho com transportadoras para incentivar a adoção de veículos mais eficientes e com menores emissões, contribuindo para a redução do nosso escopo 3.

Vocês também operam portos e usam hidrovias. Ainda há muitos gargalos nesse setor? E as operações principalmente na Amazônia são seguras do ponto de vista ambiental?

A Caramuru sempre considerou a logística integrada como um dos pilares estratégicos para o crescimento do setor. A infraestrutura logística é essencial para a comercialização de farelo e soja, e a empresa tem investido fortemente nessa área ao longo dos anos. Um exemplo é o Terminal 39, no Porto de Santos, operado em parceria com a Rumo em um modelo 50-50. Esse terminal, que já escoa farelo de soja para diversas empresas, está em processo de ampliação para dobrar sua capacidade de escoamento. No Arco Norte, onde um terço da produção brasileira é escoado, a Caramuru tem apostado na navegação fluvial como uma alternativa eficiente e sustentável. Apesar da ausência de uma ferrovia estruturada como a Ferrogrão, a empresa utiliza barcaças para transportar soja e derivados a partir de Miritituba, reduzindo custos e emissões de carbono. Cada barcaça substitui aproximadamente dez caminhões, tornando a hidrovia uma solução logística mais eficiente e ambientalmente responsável.

E no caso específico da Amazônia?

A operação da Caramuru na Amazônia já está consolidada há mais de dez anos, com a utilização de barcaças no rio Tapajós. A empresa reconhece a importância de obter todas as licenças ambientais necessárias para garantir uma atuação sustentável e contribuir para o desenvolvimento econômico e social das comunidades locais. Esse compromisso se reflete na busca por soluções logísticas que beneficiem tanto a eficiência operacional quanto a redução das desigualdades regionais.

E se estamos falando da Amazônia, como ligar a COP 30, em Belém, com os negócios?

No cenário global, o Brasil precisa se posicionar como um protagonista nas discussões sobre sustentabilidade. Muitas vezes, o debate internacional se concentra exclusivamente no desmatamento, ignorando os avanços que o País já realizou em diversas frentes ambientais e sociais. O Código Florestal brasileiro é um dos mais rigorosos do mundo e, embora a fiscalização possa ser aprimorada, é essencial destacar as conquistas nacionais no uso sustentável da biodiversidade e na produção de biocombustíveis. A COP representa uma oportunidade única para o Brasil mostrar sua liderança na sustentabilidade, evidenciando como o país já está à frente em diversas iniciativas. A conferência do clima deve ser um palco para apresentar ao mundo as soluções inovadoras que vêm sendo feitas. O Brasil não deve ser visto como um espectador nesse debate, mas sim como um condutor das discussões globais sobre sustentabilidade e desenvolvimento responsável.



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