Recent News

Cartas ao director

Cartas ao director


A des-Nunificação do Porto

Fechou a Livraria Nunes, na Av. Boavista, no Porto, perto da Casa da Música, em resultado das alterações introduzidas pela Metro do Porto e pela autarquia. A estratégia para os transportes na Av. Boavista não parece sustentável nem útil. A solução encontrada (duas faixas ao meio para circulação do Metrobus em dois sentidos) aproveita à pressa os fundos do PPR que terminam em 2026. Mas em cada sentido da avenida não há lugar para mais do que duas estreitas vias de circulação, tendo sido eliminadas as vias para mudança de direcção. Quem pretender mudar de direcção bloqueia toda essa via de rodagem. O estacionamento na zona de maior comércio foi reduzido em 80%. As lojas, restaurantes, pequeno comércio perdem clientes por dificuldade de acesso. Os carros que transportam pessoas com dificuldades motoras não podem parar porque isso implica o bloqueio total de uma das vias. Quando o Metrobus começar a circular, nas horas de maior trânsito, as ambulâncias ficarão retidas nas filas intermináveis de trânsito, sem qualquer escapatória. É certo que Rui Moreira devolveu ao Porto a sua dignidade cultural, mas fechou a cidade no apoio desmesurado às iniciativas de empreiteiros, permitindo a construção em todos os metros quadrados. E vai-nos fazer perder o tempo e a vida no trânsito.

Luis Taylor, Porto

Museu Salazar

“É importante recordar aos povos as más experiências que tiveram, porque a memória dos povos é frágil.” Ouvi antontem na televisão Mário Vargas Llosa proferir estas palavras num pequeno apontamento a propósito da morte deste escritor. Logo me lembrei das polémicas em torno do Museu Salazar. E do que vocês destacaram numa carta de anteontem, quando alguém tem a lata de afirmar que o Aljube e Peniche fornecem uma perspectiva parcial e enviesada sobre o Estado Novo. Claro que o espaço da opinião pública é o “lugar” ideal para o exercício da racionalidade e que a história é plural e não pertence a ninguém. Só que isso implica responsabilidade e exige atenção aos revisionismos o pluralismo de análise não nos compromete com o relativismo. Para um nazi, o Museu do Holocausto também adoptará uma visão parcial, enviesada ou falsa. Tive um amigo fascista que dizia sem se rir que o povo não tinha problemas no Estado Novo, só aqueles que desafiavam e punham em causa o regime. Pacheco Pereira é um dos intelectuais mais sérios de Portugal. Mas a disponibilização do seu arquivo e o seu nome ligado ao projecto do Museu de Santa Comba Dão não garantem, nem têm de garantir a objectividade histórica ou o enfoque sugerido pelo mesmo. Sobretudo quando surgem posições encomiásticas que, temo, visem uma espécie de “reanche” sobre as posições que apelidam de parciais, querendo reescrever a história e transformando as “más experiências” de que fala Vargas Llosa em fumo, substituindo-as por narrativas branqueadoras do Estado Novo.

Custódio David, Lisboa

Um bispo pouco católico

A reportagem sobre as condições na Casa dos Rapazes no Barreiro é mais um daqueles murros no estômago longe das parangonas jornalísticas, tão ocupadas com as discussões inúteis, falsas e alheadas da realidade diária, com que a classe política se entretém a ver se conquista mais uma meia dúzia de votos que lhe permita acesso a uma sinecura dourada no Parlamento. Estas crianças, as mais vulneráveis das vulneráveis, se não lhes derem o mínimo de dignidade, facilmente se revoltam. É aqui que entra a inarrável entrevista do bispo Américo (cardeal promovido).

Ele, que está sempre disposto a falar de tudo, desde política ao futebol, que tem espaço permanente na comunicação social, aqui faz como os “macacos sábios” chineses. Não viu, não ouve, não fala. Tem obrigação de visitar imediatamente a instituição, ver o que se passa e actuar, e não sacudir para a Segurança Social. Ainda por cima, em tempo de Páscoa, deixa uma imagem de ser pouco católico e mais político.

António Lamas, Montijo

Debates

Tenho assistido aos debates televisivos entre os dirigentes dos principais partidos, tendo verificado que os moderadores têm sido, regra geral, subalternizados e, por vezes, quase que ignorados. Ora, aos moderadores incumbe fazer perguntas incómodas aos interlocutores sobre temas que mais interessam ao cidadão comum. Não é isso que se tem visto. De facto, aos moderadores, na maior parte dos debates, não tem sido possível desempenhar tal papel – uns mais, outros menos –, uma vez que os intervenientes vão para ali não para responder às perguntas que lhes são colocadas, mas para debitarem cartilhas que, previamente, lhes são preparadas e pouco mais. Aos moderadores, em alguns momentos, resta-lhes ser meros cronometristas.

José Marques de Oliveira, Lisboa



Source link

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *