Paradoxos incertos do tempo que urge
Como um castelo de cartas caiu o regime sírio, pela invasão de uma força armada saída da fronteira noroeste, sob a fiança político-militar da Turquia, um exército islâmico remodelado com nova etiqueta e de barba lavada. Logo de seguida, Israel, superpotência regional, com o emblema sangrento do massacre em Gaza, e a ofensiva contra o Líbano, completa a tarefa, bombardeando a Síria e aumentando, com um tampão, os seus terrenos.
Por outro lado, na Geórgia transcaucásica, as eleições em que venceu o “Sonho” não convencem a turba que protesta, descontente e belicosa. Na Roménia, o resultado eleitoral do imprevisto Georgescu leva a que o Tribunal Constitucional anule as eleições e impeça a segunda volta, preventivamente, por culpa atribuída ao Tik Tok. Em França, o Presidente Macron, prestidigitador de sucessivos reveses eleitorais, ainda inócuos, é anfitrião para 50 chefes de Estado, na Notre-Dame restaurada. E o surreal golpe militar tentado pelo Presidente da Coreia do Sul, sem que o Parlamento o conseguisse demitir, por não alcançar 2/3 dos votos. Tudo isto num pano de fundo, de nuvens negras, em que voam drones e mísseis, com muita pressa.
José Manuel Jara, Lisboa
Um Portugal para os estrangeiros
Os estrangeiros que compram moradia em Portugal deveriam pagar uma taxa suplementar e os portugueses, em contrapartida, ter uma benesse. O investimento imobiliário estrangeiro faz com que saia mais divisa do que entra, e inflaciona os preços, tornando as casas acessíveis só a ricos. Portanto, tem desvantagens generalizadas para um número maior de cidadãos, e vantagens para um número irrisório de cidadãos. Paradoxalmente, os turistas pagam uma taxa turística de, por exemplo em Lisboa, quatro euros, mas os trabalhadores portugueses que vão, neste caso, a Lisboa também pagam os quatro euros como se fossem turistas (ricos como os estrangeiros). Por outro lado, os portugueses, na maioria, com estudos, vão servir e beneficiar o estrangeiro: emigram, porque em Portugal ganham pouco, e o Estado também, porque arrecada menos valor do imposto sobre a remuneração. Assim sendo, os políticos, não legislando, são a causa desses graves problemas para os portugueses (veja-se quem votou a favor, por hipótese, do aumento de 100% das taxas turísticas em Lisboa; veja-se quem inocuamente não age contra tudo isto).
Luís Filipe Rodrigues, Santo Tirso
MEC vs. Donald Trump
“Como se compram votos”, de Miguel Esteves Cardoso (PÚBLICO de 11 de dezembro), deveria ser lido pelos agentes políticos. O autor de Como Escrever é um corajoso e lúcido cronista, escritor e jornalista. A vitória eleitoral de Trump foi a derrota do elitismo político norte-americano. Se Trump conseguir parar a guerra Ucrânia/Rússia, a derrota democrata abraça a generalidade dos líderes políticos europeus que só falam em guerra. Para bem do Velho Continente, espero que Trump vença essa maldita guerra. Como vai Volodomyr Zelensky explicar ao povo ucraniano as dezenas de milhares de mortes de uma guerra que afirmou vencer? Trump não vai nomear procurador especial para investigar Joe Biden, apesar de o ainda Presidente derrotado ter chamado “lixo” aos apoiantes do candidato vencedor. O lema democrata “quando lutamos, ganhamos”, esse sim, foi para o caixote do lixo.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
Novo regime na Síria
A União Europeia, o Reino Unido e, de um modo geral, os países do mundo ocidental saudaram não só a queda do regime autocrático de Al-Assad, como cantam hosanas aos rebeldes que o derrubaram, chefiados pela Organização de Libertação do Levante (HTS), liderada por Abu-Mohammad al Jolani – um radical e ortodoxo do grupo mujahedine, e que até bem pouco tempo pertencia ao braço armado de Al-Qaeda. Já os EUA foram mais cautelosos, pela experiência que tiveram após o caso do Afeganistão, expresso na desastrosa concessão que fizeram a esse agrupamento de alcance terrorista. Não é por acaso que as celebrações eufóricas que se seguiram à queda de Damasco tiveram como atores apenas homens, não se vendo praticamente mulheres celebrando “a oportunidade de liberdade”, expressão usada por um alto funcionário da UE. Configurada por muitos como a continuação da “Primavera Árabe”, será que estão esperando mais um Estado religioso?
António Bernardo Colaço, Lisboa