O historiador, curador e crítico de arte Miguel von Hafe Pérez vai ser o novo curador da colecção de arte contemporânea da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), substituindo no cargo António Pinto Ribeiro.
O anúncio foi feito na semana passada pela instituição fundada em 1985 pelo Estado português com o objectivo de promover a cooperação com as comunidades luso-descendentes nos Estados Unidos da América. Reforçar “o seu papel como agente na valorização e promoção da arte contemporânea portuguesa”, de que a Colecção FLAD é uma referência histórica, é a justificação apresentada para o convite ao curador portuense pelo actual presidente da instituição, Nuno Morais Sarmento, antigo ministro dos Governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e que no ano passado substituiu no cargo Rita Faden.
“Foi um convite inesperado, mas que me honra bastante, e que é desafiante pela tradição que esta colecção tem no contexto da arte portuguesa contemporânea”, disse ao PÚBLICO Miguel von Hafe Pérez, apostado em responder aos novos desafios, “abrindo-a a novos meios e a novos artistas emergentes”.
Atenção ao desenho
Fundada logo em 1986, a Colecção FLAD é devedora da acção do historiador e professor Manuel Castro Caldas, que “foi o responsável pelo seu início, e que, pela excelência das suas escolhas e pelo modo como sedimentou um eixo central erigido a partir do desenho, veio intensificar a sua individualidade”, nota o novo curador em declaração citada pela fundação.
A Colecção FLAD conta actualmente com mais de um milhar de obras, um acervo representativo da produção artística portuguesa dos anos 80 até ao início do século XXI, e da já referida atenção especial à disciplina do desenho – exemplo disso é a parceria com a feira Drawing Room Lisboa (que em Outubro terá a sua 8.ª edição), na qual a fundação patrocina, desde há quatro anos, o Prémio FLAD de Desenho.
Miguel von Hafe Pérez lembra que esta “foi uma das primeiras grandes colecções institucionais em Portugal, a seguir à da Gulbenkian”, tendo surgido “numa altura em que não existia ainda nem Serralves, nem o Centro Cultural de Belém”, diz ao PÚBLICO.
Parte da colecção encontra-se actualmente em depósito na Fundação de Serralves, a partir de onde tem vindo a ser mostrada em exposições próprias ou em empréstimos a outras instituições.
“É um desafio interessante para expandir e dar mais visibilidade a este património, e também ao núcleo de actividades que a FLAD vem apoiando, que são um estímulo para repensar a própria colecção”, acrescenta o curador sobre o seu programa, que deverá decorrer até ao final do mandato de cinco anos da actual direcção da FLAD.
“A continuada recuperação de autores e obras que demonstram a capacidade de lançar novos olhares e questões sobre a história da arte portuguesa a partir da década de 60 do século passado, a abertura a novos meios e a atenção a artistas emergentes são premissas fundamentais para um trabalho futuro que se quer diferenciador e prospectivo”, especifica Miguel Pérez, citado pela FLAD
Licenciado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Miguel von Hafe Pérez iniciou o seu percurso profissional na Fundação de Serralves ainda no final dos anos 80, tendo depois dirigido a Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, na segunda metade dos anos 90. Teve um papel marcante na equipa de programação da Capital Europeia da Cultura – Porto 2001, coordenando a área de Artes Plásticas, Arquitectura e Cidade. No ano seguinte, comissariou a representação portuguesa na 25.ª Bienal de São Paulo e, entre 2009 e 2015, dirigiu o Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela.
Vai agora partilhar a direcção da Colecção FLAD com a da colecção da Fundação Ilídio Pinho, no Porto, e também com a programação do Centro de Artes Visuais (CAV), em Coimbra.