A Infraestruturas de Portugal (IP) prepara-se para dar à exploração o troço de 68 quilómetros entre Gouveia e Guarda, na Linha da Beira Alta, em meados de Outubroseguindo-se, em Novembro, o troço Pampilhosa – Mangualde (78 quilómetros). Fica, no entanto, a faltar o troço central entre Mangualde e Gouveia, de 16 quilómetros, que só deverá ser reaberto no primeiro trimestre de 2025 e que até lá impede a total reabertura da principal via-férrea que liga Portugal à Europa.
‘Dar à exploração’ significa que o gestor da infra-estrutura considera que a linha está pronta para nela operarem comboios regulares (de passageiros e de mercadorias), mas isso não quer dizer que estes comecem logo a circular. Primeiro é necessário renovar certificados de segurança, um dos quais é a habilitação dos maquinistas para conduzir numa linha que sofreu alterações e já não é a mesma que existia em Abril de 2022 quando foi encerrada para obras.
Isso significa que os maquinistas terão de “aprender caminho” fazendo várias viagens em circulações especiais, acompanhados por um responsável da IP que lhes indicará as alterações que a linha sofreu. Um procedimento que abrangerá, não só os maquinistas da CP, como também os dos operadores de mercadorias Medway e Cap Train e que deverá durar um mês.
Deste modo só em meados de Novembro poderá reabrir em serviço comercial o primeiro troço entre Gouveia e Guardamantendo-se o resto da linha com serviço rodoviário de substituição. Mas como a estação de Gouveia fica num sítio isolado, longe da localidade e com poucas condições operacionais, a CP prefere pôr os seus comboios a circular só a partir de Fornos de Algodres, uma estação com mais linhas e mais próxima da vila.
Já o troço entre Pampilhosa e Mangualde, podendo estar terminado em Novembro, só deverá ter serviço comercial a partir de Dezembro. Este, sim, um troço mais proveitoso para a CP, que poderá finalmente prolongar os seus Intercidades até Mangualde (actualmente terminam em Coimbra onde é feito o transbordo rodoviário) servindo já uma boa parte da região da Beira Alta nas suas ligações a Coimbra e Lisboa.
Entre Mangualde e Gouveia, as obras da Beira Alta estão emperradas por causa do antigo túnel de Mourilhe. O PÚBLICO noticiou em Junho que a IP foi confrontada com problemas geológicos no canal ferroviário que ocupa a zona do antigo túnel, o qual foi demolido e substituído por uma longa trincheira. A demolição daquele túnel, porém, não teve em conta um conjunto de canalizações seculares que escoavam a água dos lençóis freáticos ali existentes, tornando agora instável o solo onde assenta a via férrea. A IP está desde então a procurar resolver este problema, o último dos muitos que têm provocado atrasos nas obras.
IP já não se compromete com prazos
Depois de tantas datas falhadas para a reabertura da Linha da Beira Alta, a IP tem tentado não se comprometer com novas metasmas no dia 24 de Setembro o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pinto Luz, anunciou em S. João da Pesqueira a reabertura de um primeiro troço em Novembro e a totalidade da linha “até Março do próximo ano”.
O PÚBLICO questionou a IP sobre a calendarização destas reaberturas anunciadas pelo ministro, mas a empresa não respondeu.
No entanto, na segunda-feira, 30 de Setembro, Henrique Teles, director da IP, anunciou durante a Conferência Intermodal Portugal, que se realizou no porto de Leixões, que o percurso entre Gouveia e Guarda seria o primeiro a reabrir na linha da Beira Alta, já no final de Outubro. No entanto, também referiu que aquela via-férrea vai reabrir com a sinalização antiga e que “a nova sinalização apenas vai estar pronta no final de 2025”.
A nova sinalização é o ERTMS (Sistema Europeu de Gestão de Tráfego Ferroviário), que faz parte do projecto de modernização da Linha da Beira Alta e que era suposto já estar implementado aquando da sua reabertura. A ausência deste moderno sistema de sinalização e telecomunicações não vai impedir a circulação dos comboios, mas causará novas perturbações quando for instalado ao longo de toda a linha.
A Linha da Beira Alta está a ser alvo de um investimento de 600 milhões de euros e encerrou em 19 de Abril de 2022 por um período anunciado de nove meses. Devia ter reaberto em Janeiro de 2023mas a IP anunciou entretanto um novo prazo que seria Novembro de 2023. Também não foi cumprido e a gestora de infra-estruturas voltou a anunciar nova meta: Junho de 2024. Também falhou e o novo prazo passou a ser o “quarto trimestre de 2024”, o qual só será parcialmente cumprido porque a linha não reabrirá na totalidade.
A última palavra foi do ministro Pinto Luz. Anunciou que a Beira Alta reabrirá na totalidade até Março de 2025.