São dois nomes distintos da música da Espanha, Rocío Márquez e Bronquio, ela vinda do flamenco (que canta desde pequena) e ele da música eletrônica. Juntaram-se num muito aplaudido disco, Terceiro Céupublicado em 2022, e é esse trabalho de parceria que agora apresentam ao vivo em Portugal, no âmbito no Misty Fest. Nesta sexta em Loulé, no Cine-Teatro (21h) e domingo dia 10 no São Luiz, em Lisboa (21h30), seguindo depois para Marrocos (Tânger e Casablanca) e Bélgica (em dezembro).
Rocío Márquez, nascida Rocío Márquez Limón em Huelva, em 1985, começou nas peñas flamencas aos 8 anos, doutorou-se na Universidade de Sevilha com a tese A técnica vocal no flamencoobteve vários prêmios e começou a gravar a partir de 2009, primeiro com Aqui e agoradepois com Clareza (2012), A criança (2014), Firmamento (2017), Diálogos de Sones Novos e Antigos (com Fahmi Alqhai, 2018), Visto na quinta-feira (2019, que apresentou ao vivo em Portugal, entre 2019 e 2022), O amor vence tudo (com Enrike Solinís, 2020), terceiro céu (com Bronquio, 2022) e Flamencos: Falla, Granados, Albéniz (com a pianista clássica Rosa Torres-Pardo, 2022).
Já Bronquio, nome verdadeiro Santiago Gonzalo, nascido em Jerez, é um jovem músico que começou no punk e enveredou pela música eletrônica, com álbuns em colaboração com Nita (Cristina Manjón, do duo Fuel Fandango), Cris Lizárraga (dos Belako) ou 41V1L (Livia Marin Arizaga). Produtor de discos de Kiko Veneno, Natalia Lacunza ou Anaju, o seu trabalho com Rocío Márquez é um dos mais recentes.
Por que Rocío se aproximou do universo de Bronquio? “Porque me interessava muito sua música”, explica a cantor ao PÚBLICO. “Ele chegou a fazer um remixar de um tema do meu disco Quinta-feira e esse foi o primeiro contato artístico que tivemos. Gostei muitíssimo do que ele fez com essa rondeña [Empezaram los cuarenta] e falamos da possibilidade de fazermos um projeto juntos, mas em um disco inteiro, em parceria.”
Só que não foi fácil: “Tinha muito trabalho, muita coisa acontecendo, era difícil achar o momento certo. Entretanto, foi declarada a pandemia da covid-19 e os artistas ficaram trabalho, o que acabou sendo uma oportunidade para levar adiante o projeto de um disco em conjunto. “Como tínhamos muita vontade de fazer música, e tínhamos tempo, entrei em contato com ele para ver se ele estava disponível para trabalhar comigo naquele projeto. Não se podia fazer concerto mas, pelo menos na Espanha, podia haver encontros entre pessoas, desde que fosse pouca gente.” Começaram então a se reunir, em intervalos, na casa de Rocío, e assim as novas músicas foram nascendo.
A experiência de juntar flamenco e música eletrônica foi muito boa, diz Rocío,: “Foi maravilhosa, porque aprendi muitíssimo. Quando me escuto, totalmente distorcida, a voz tem um formato distinto, como se a escutássemos por dentro. É totalmente diferente quando temos recursos que não são os que normalmente usamos. Os melismas do flamenco, por exemplo, ganham um toque experimental, o que me interessa muito, e ao vivo tentamos fazê-lo de uma forma a que se diluam os seus limites, para que a dado momento o espectador não saiba bem se aquele som é feito por ele ou por mim.”
O disco resultante da parceria de Rocío com Bronquio foi publicado no mesmo ano em que outro, totalmente distinto, Flamenco: Falla, Granados e Albénizrecital gravado ao vivo em Madri, oito anos antes, em 2014, e que reuniu Rocío (voz) e a pianista Rosa Torres-Pardo, interpretando temas clássicos dos compositores Enrique Granados, Isaac Albéniz e Manuel de Falla. “Eles não têm nada em comum”, diz Rocío. “Exceto a necessidade pessoal, minha, de me encontrar com outros códigos distintos do flamenco. E estabelecer pontes, diálogos, com o código próprio do flamenco. Por isso, trabalho tanto com música eletrônica quanto com pianista clássica.”
Haverá outro disco com Bronquio? Talvez em outro momento, diz Rocío. “Mas acredito ser necessário que o próximo disco siga outro caminho. Por exemplo, agora estou gravando um disco que sairá na primavera de 2025 e que será totalmente diferente do anterior. Mas sempre permitindo ao flamenco um diálogo com outros gêneros musicais.”